Principais Sistemas de Enchimento das Canetas-Tinteiro

Sempre houve por parte dos fabricantes de canetas-tinteiro extrema preocupação com relação aos sistemas de abastecimento de tinta de suas canetas. 

Desde o sistema de conta-gotas (eye-dropper) até os atuais conversores, os objetivos dos fabricantes foram dotar as suas canetas com sistemas simples, eficientes e de boa capacidade de armazenamento de tinta. 

O objetivo deste artigo é mostrar os principais sistemas de enchimento adotados ao longo do tempo e os princípios de funcionamento que os nortearam. 

1 – Alavanca Lateral

Conhecido como Lever Filler, esse sistema foi largamente usado nas Sheaffer, Parker, Wahl Eversharp, Esterbrook, Waterman e muitas outras.  
É um sistema simples e robusto inventado e patenteado por Walter A. Sheaffer primeiramente em 1908. Apresentou problemas e nova patente modificada foi obtida em 1912. 
Uma alavanca lateral instalada no corpo da caneta, quando levantada, pressiona uma barra metálica interna ao seu corpo, que se fecha sobre um saco de borracha. 
Quando a alavanca é solta o saco de borracha é deflacionado fazendo a sucção necessária para o enchimento desse saco. 
Alguns fabricantes recomendam apenas um acionamento da alavanca, entretanto outros como a Esterbrook, conforme mostra a foto a seguir, recomenda 3 acionamentos da alavanca em um ângulo de 90º, contando-se até 10 após o último acionamento, para que o saco de borracha se encha. Após é só limpar a pena e a caneta está pronta para escrever. 

2 – Sistema de Enchimento por Botão

Conhecido como Button Filler, esse sistema foi muito usado principalmente pela Parker. É um sistema bastante simples e realtivamente robusto.  
A foto a seguir mostra esquematicamente o seu funcionamento. 

Pressiona-se o botão de enchimento que atuará sobre a barra metálica, que por sua vez pressionará o saco de borracha. Quando o botão é solto, a tinta é intenalizada por sucção no saco de borracha, conforme as instruções a seguir.

3 – Sistemas de Enchimento por Diafragma 

Conhecidos como Vacumatic, foram usados pela Parker entre o início da década de 1930 até os meados da década de 1950. Foram usados também pela Mabie Todd, Osmia e outras fabricantes.  

A seguir uma foto esquemática de seu funcionamento. A haste deve ser pressionada por 9 nove vezes. À medida em que esses acionamentos são feitos, o diafragma faz vácuo no condutor e a tinta é conduzida para o interior do corpo da caneta. É importante observar que a quantidade de tinta internamente, é limitada pelo tamanho do condutor. 

São três os sistemas vacumatic: Lockingdown Filler, Speedline Filler e Plunger Filler.
No diagrama a seguir são mostrados estes sistemas com o diafragma recolhido.

No sistema lockingdown filler, como ele é travado, é necessário para liberar a haste, uma ligeira pressão no botão e o seu giro no sentido anti-horário. Para travá-lo o procedimento inverso deve ser feito, ou seja, após os 9 acionamentos, com a pena ainda no tinteiro, deve-se pressionar a haste e girar o botão no sentido horário.  

4 – Sistema de Enchimento por Pistão

Conhecido como Piston Filler, é um sistema que foi usado pelos fabricantes européus como: Pelikan, Montblanc, Ósmia, e muitos outros. Continua sendo usado até os dias de hoje, sendo o preferido por praticamente todos os fabricantes, para dotar as suas canetas topo de gama. 

A figura a seguir mostra o sistema de uma Pelikan. Ao girar a tampa cega no sentido anti-horário, com a pena mergulhada em um tinteiro, o pistão desce expulsando o ar existente internamente. No final do curso, o pistão está todo na parte de baixo do corpo. Gira-se a tampa cega no sentido horário e à medida que o pistão sobe, traz consigo a tinta.  

5 – Sistemas de Enchimento Pneumáticos

Conhecidos como Plunger Filler ou Vacumm-Fill, Snorkel e Touchdown, foram usados principalmente pela Sheaffer, Chilton, Wahl Eversharp e outras fabricantes.  

No site existe um artigo que trata dos sistemas Vacuum-Fill e Snorkel, que logo será agregado a este artigo. Assim, resta tratar o sistema Touchdown, que é mostrado esquematicamente na figura a seguir:

Para o abastecimento basta girar a tampa cega no sentido anti-horário e o tubo metálico se estende. Coloque a pena e seção mergulhados na tinta e empurre para baixo a tampa cega, esperando de 6 a 8 segundos para retirar a seção e pena da tinta. Limpe com papel absorvente. 

6 – Sistemas de Enchimento Aerométricos 

Foi primeiramente usado pela Parker na linha 51 a partir de 1948, com uma guarda metálica sofisticada, e posteriormente nas 21 e 41 americanas e nas Duofolds inglesas com a guarda metálica em forma de U. O sistema foi uma revolução no mundo da escrita, pois além de muito fácil operação tem uma boa capacidade de tinta e saco plástico de armazenamento de tinta chamado de “Pli-Glass” praticamente indestrutível. Praticamente indestrutível porque a Parker estimou a sua vida útil em 30 anos e perto de 100% deles ainda estão hoje em operação e em excelentes condições. Realmente extraordinário.  

A foto a seguir mostra os passos necessários para o abastecimento das canetas aerométricas. Traz ainda uma explicação, fornecida pela Parker, sobre a razão da tinta não ocupar todo o saco de borracha.  

7 – Algumas Curiosidades Sobre a Capacidade de Enchimento de Canetas

Jim Marshall e Laurence Oldfield no excelente livro chamado Pen Repair, na página 45, tecem comentários e mostram as capacidades de enchimento de diversas canetas, relacionando-as com os tipo de mecanismos de enchimento. A seguir, alguns exemplos, onde estão colocados na sequência: o fabricante, o modelo, o ano de fabricação, o sistema de enchimento e o volume de tinta em mililitros (ml).  

  • Conklin – Nozac – 1934 – Pistão – 2ml
  • Montblanc – 22 – 1959 – Pistão – 1,6ml
  • Conway Stewart – 475 – 1938 - Alavanca – 1,12ml
  • Parker – Vacumatic Oversize – Diafragma – 3,25ml
  • Sheaffer – Pen For Men – 1960 – Snorkel – 0,85ml
  • Parker – Lucky Curve Senior – 1928 – Botão – 2,1ml
  • Ford – Magnum – 1933 – Pistão – 7,25ml (é isso mesmo!).  

Dá prá concluir então, no que se refere ao armazenamento, que isso depende do tamanho da caneta e das limitações de capacidade do saco de borracha, quando existem, e outras variáveis construtivas. 

Star Fountain Pen - Outubro de 2008
Fotos por: Silvério Sanches Terceiro, com base no livro Fountain Pen of the World
Texto por Humberto Sanches e Silvério Sanches III