A Tinta Para Canetas-tinteiro

No início, as tintas eram basicamente uma mistura de água com a cor dada por frutas como morango e ameixa, sangue, carvão e outras coisas simples. Tintas especiais para canetas-tinteiro só se tornaram mais comuns no início do século XX. Duas categorias básicas existiam: lavável e permanente.

As tintas laváveis são em sua maioria apenas água com corantes, já que não precisavam se manter. As permanentes continham compostos metálicos em sua composição, que formam depósitos de sedimentos, que devem permanecer no papel, mesmo depois da tinta ter-se evaporado completamente. Essas tintas, frequentemente eram anunciadas como “Writes blue, Dries black” (algo como escreve em azul, mas seca em preto), ou seja, a famosa azul-preta.

Na foto a seguir são mostradas tintas brasileiras antigas. A do meio é a tinta Sardinha, Made in Brazil. Seu frasco era feito na Inglaterra. As outras duas que aparecem nas laterais são da marca Goyana. 

A Parker em 1931 veio como a “Quink” uma junção das palavras Quick e Ink, passando a idéia de uma tinta de secagem rápida. Era altamente alcalina e continha álcool isopropílico, um solvente que não era usado nas tintas até então. Em casos em que os corpos eram feitos de piralina, o álcool da tinta, danificava-os.
Em 1939 a Parker fez grandes mudanças na sua Quink, primeiramente ela foi refinada com a adição de um componente químico chamado SOLV-X o qual dissolvia sedimentos e ajudava na limpeza da caneta enquanto o usuário escrevia, além de secar ainda mais rápido que o normal, renomeando-a “Double Quink”.
Com o lançamento da Parker 51, levou para o mercado a sua tinta “51”, que nada mais era que a Double Quink, alertando que a mesma poderia danificar outras canetas que não fossem as 51 Vacumatic. O motivo desse alerta é que o álcalis não atacava a lucite (polimetilacilato), material que era usado nos corpos e conchas das 51. Ao fim e ao cabo, isso não fez muita diferença, pois a tinta continuou a manchar e a destruir sacos de borracha tão rapidamente quanto as outras tintas, inclusive os diafragmas das próprias 51 Vacumatic. Evidentemente o que destruia os sacos de borracha não era mais o álcool e sim o fato da tinta continuar fortemente alcalina. 

Percebendo o problema, a Parker, no final da década de 1940 lançou a sua 51 aerométrica com o saco plástico chamado de “pliglass” e renomeou a sua tinta com nome de Superchrome, também no final da década de 1940. Registre-se que a Parker gastou mais de 200.000 dólares e 17 anos de pesquisa antes do lançamento da Superchrome.  
A seguir uma foto da tinta Parker 51 e da Superchrome com os alertas de que deveriam ser usadas apenas nas canetas Parker 51. 

A Superchrome era de secagem muito rápida, mais brilhante que as outras tintas e tinha várias opções de cores. Infelizmente essa secagem rápida não acontecia apenas no papel, mas também nos mecanismos de enchimento e penas das canetas.
Para minimizar o problema foram usados agentes lubrificantes, como água e detergentes, mais específicamente para que essas tintas fluissem mais normalmente. A foto a seguir mostra diversas tintas que a Parker produziu. 

Com o lançamento da Parker 61, caneta que demandou mais de 11 anos de pesquisas de uma equipe de 63 pesquisadores da Parker, descobriu-se que o uso intensivo da Superchrome, levaria a obstruções da célula de abastecimento, muito difíceis de serem limpas de uma forma simples. A solução encontrada foi voltar para a Quink com SOLV-X. 

A seguir um display da Parker com tintas Quink em diversas cores e usado na venda e também divulgação das tintas Parker. Nas laterais embalagens econômicas dessa tinta.

Em 1993 a Parker colocou no mercado uma nova tinta chamada de PENMAN, que foi retirada em 2000, pois apresentou problemas de obstrução dos mecanismos de enchimento das canetas, principalmente a de cor preta (Ebony Black). A seguir uma foto da PENMAN apenas por curiosidade, pois é uma tinta não recomendada para uso. 

Frank Dubiel autor do célebre Da Book recomenda o uso da Parker Quink e da Skrip; e Cliff Lawrence autor do Pen Fancier’s Club Manual for Sheaffer Fountain Pens, endossa o uso da Sheaffer Skrip, recomendando o seu uso em detrimento de todas as outras tintas existente no mercado.  

A seguir uma foto com diversos frascos da tinta Skrip, grande rival da Parker na preferência dos consumidores. Fato curioso sobre as Skrip é que as mesmas possuem um componente chamado RC-35 que garante uma proteção permanente à escrita. Se a tinta for apagada ou suprimida por qualquer método, a escrita reaparece sob os efeitos de ráios ultra-violetas. 

A maioria dos fabricantes de canetas atuais e antigos sempre produziram suas próprias tintas. A foto a seguir mostra tintas de fabricantes como Sanford’s, Waterman, Pelikan, etc. 

Merece destaque a Carter’s, infelizmente fora de mercado atualmente. Fabricou canetas e tintas de qualidade. A foto a seguir mostra diversos frascos de Carter’s, com destaque para os que trazem as figuras do Sr. e da Sra. Carter, em porcelana alemã, nas cores azul e rosa, respectivamente.  

Modernamente existem muitos fabricantes de tintas, que não fabricam canetas, principalmente nos Estados Unidos. Algumas são excelentes, mas de difícil acesso no Brasil. 
Entretanto, no Brasil, existem disponíveis para aquisição muitas tintas de muitos fabricantes, como Pilot, Rotring, Cross, Montblanc, Aurora, S.T. Dupont e outros, conforme mostrado na foto a seguir. Recomendamos apenas a Parker Quink e a Skrip, pois todas as outras contêm em maior ou menor grau, substâncias nocivas às suas canetas. 

Alguns colecionadores têm receio de usar tintas com 30, 40 anos de idade, mas esse medo é infundado, desde que se use um pote livre de sedimentos e de preferência Quink ou Skrip.

A qualidade dessas tintas é excepcional e fortemente recomendada, por Dubiel, Cliff Lawrence e pela Star Fountain Pen. 

Star Fountain Pen - Setembro de 2008
Todas as tintas fotografadas fazem parte do acervo da Star Fountain Pen
Fotos por: Silvério Sanches III
Texto por Humberto Sanches e Silvério Sanches III